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Friday, January 04, 2008

Religiao & Bussiness


Artigo bastante interessante in: Publico.pt http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1315620 sobre Ética Empresarial e influencia da religiao na organizaçao do pensamento e estratégia do negócio



Fé nos negócios

04.01.2008 - 12h51

Por Ana Rute Silva

As religiões do mundo definiram há séculos formas de estar no mundo dos negócios, que perduram nos dias de hoje. A forma como o dinheiro e o lucro são vistos pelo catolicismo, islamismo, hinduísmo, budismo e judaísmo mostra que há mais pontos em comum do que diferenças [Suplemento Economia]


A religião está no meio de nós. Não só estrutura planos de negócio, como define normas e condutas a seguir. Séculos antes de existir qualquer abordagem filosófica à ética empresarial, as religiões já a definiam. E mesmo que todos os dias se fale em crise de fé, a verdade é que três em cada quatro pessoas diz ser religiosa. Como afirma Domenèc Melé, professor e director do departamento de Ética Empresarial da Escola de Negócios IESE, em Espanha, as crenças fornecem mapas de acções nos negócio e a "ética religiosa está mais viva, hoje, do que a moral filosófica das implicações do negócio para a comunidade". Num mundo global, gerir a diversidade implica conhecer a abordagem ao negócio das várias religiões.


Breve Raio X

Judaísmo

População

Cerca de mil em Portugal (15 milhões no mundo)

Relação com a riqueza

Para os judeus, o bem-estar e a riqueza não são apenas produto do sucesso de um negócio. É uma bênção de Deus, uma espécie de depósito colocado nas mãos das pessoas para que possam dedicar-se à vida espiritual judaica. É admissível tirar proveito da riqueza. As necessidades económicas ou desejos são encarados como qualquer outra tendência humana.

Actividades profissionais desaconselhadas

A usura não é permitida. É valorizado o trabalho manual. O Talmude, código magno da lei judaica, refere que "uma pessoa que ganha um sustento honesto através de um trabalho manual tem mais valor do que uma pessoa que teme os céus".

Catolicismo

População

7,3 milhões em Portugal (970 milhões no mundo)

Relação com a riqueza

O capitalismo é aceitável se for entendido como um sistema económico que reconheça o papel positivo e fundamental das empresas. É defendido o direito à propriedade privada e os lucros são entendidos como reguladores da vida empresarial, a par de factores humanos e morais.

Actividades profissionais desaconselhadas

Todas as que não respeitem a dignidade humana. As actividades profissionais devem contribuir para a sociedade.

Islamismo

População

35 mil em Portugal (mil milhões no mundo)

Relação com a riqueza

A prosperidade é desejável mas não deve ser o fim único. Os muçulmanos devem fornecer serviços úteis à comunidade. É reconhecido o direito de propriedade e Alá é aquele que sustenta. O Islão não permite a riqueza ilícita. Uma percentagem anual dos lucros deve ser dada aos pobres.

Actividades profissionais desaconselhadas

Qualquer actividade deve ser gerida de acordo com as leis da natureza decididas por Deus. Não se deve ter uma profissão que explore as pessoas, nem enganar o cliente no preço ou na qualidade do produto. É proibido vender e consumir álcool e carne de porco.


Hinduísmo

População

15 mil em Portugal (780 milhões no mundo)

Relação com a riqueza

Os bens são necessários mas o que é supérfluo ou excessivo implica perda de identidade. A riqueza não é um objectivo supremo. A ética é mais importante. O sistema de castas hierarquiza a sociedade de acordo com classes profissionais (por ordem de importância): Brahmans (sacerdotes), Kshatriyas (realeza e soldados), Vaisyas (empresários, agricultores) e Harijans ("os intocáveis").


Actividades profissionais desaconselhadas

As que prejudiquem seres humanos e animais


Budismo

População

10 mil em Portugal (325 milhões no mundo)

Relação com a riqueza

Produzir riqueza não é uma questão central, mas não se considera a acumulação de dinheiro negativa. Não são as condições materiais que influenciam a felicidade, por isso o dono de um império de milhões pode ser budista se não se apegar à riqueza que produz

Actividades profissionais desaconselhadas

Um budista deve ter um meio de vida que não prejudique directa ou indirectamente seres vivos. Deve poder contribuir para o bem comum. Ser talhante, caçador, trabalhar no sector químico, farmacêutico ou no armamento é desaconselhado


Principal fonte consultada: Religious Foundations of Business Ethics, de Domènec Melé in "The Accontable Corporation", Marc J. Epstein e Kirk O.Hanson



O novo papel da ética na gestão das empresas

Cursos, códigos e regras de comportamento estão, hoje, por todo o lado. Tal como a religião não é irrelevante para a sociedade, também não o é para as empresas

A nova tendência de preocupação ética entrou nas empresas à custa de escândalos financeiros, polémicas e processos de fraude. Gestores atrás das grades, empresas que prejudicam o ambiente, produtos que provocam doenças... Uma lista interminável de consequências da actividade de um negócio que foi mal conduzido chamaram para dentro dos corredores dos escritórios preocupações que vão além do lucro. Fazer dinheiro, aliás, passou também a depender de imperativos éticos: se uma empresa utiliza mão-de-obra infantil é penalizada pelos consumidores, condenada na praça pública.

Em entrevista por e-mail ao PÚBLICO, Domenèc Melé, director do departamento de Ética Empresarial da Escola de Negócios IESE e autor do artigo "Religious Foundations of Business Ethics", lembra que há alguns anos ninguém falava de ética empresarial. "Alguns viam mesmo este conceito como algo de contraditório ou sem lugar na racionalidade empresarial. A ética resumia-se a valores subjectivos e respeitáveis mas externos à empresa", começa por explicar. Algo mudou. A maioria das empresas reconhece que a ética faz parte da actividade, introduziram códigos, declarações de valores e programas de formação. "A ética é uma preocupação formal mais intensa nos dias de hoje. Ou seja, a profusão de códigos e cursos traduz uma maior preocupação com a gestão da ética e da reputação", aponta por seu lado Miguel Pina e Cunha, professor na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.

Mais do que códigos

Mas há ainda muito por fazer. "Não se trata apenas de códigos e normas. Estamos a falar de comportamento, carácter e virtudes pessoais. A qualidade ética das pessoas é a chave e muitas empresas já perceberam que na selecção dos seus recursos humanos são cada vez mais ponderados valores como a integridade e o sentido de responsabilidade social e ecológica", lembra Méle.

Fernando Neves de Almeida, que lidera a Boyden em Portugal (empresa de selecção e recrutamento de cargos de topo), já tentou reunir directores de recursos humanos com líderes religiosos para discutir a espiritualidade e a felicidade no local de trabalho. "Não houve inscrições suficientes para encher a sala. A ideia era perceber como cada religião encarava a felicidade", conta. Mesmo admitindo que as preocupações éticas dominam a gestão actual, o consultor acredita que num mercado concorrencial não se consegue pôr os princípios e a moral acima do lucro. "Os gestores são avaliados pelos resultados e se estiver mais virado para a espiritualidade terá mais conflitos interiores", alerta. Apesar do cepticismo, diz que "a religião tem um papel mais importante do que se pensa na organização económica".


As religiões do mundo deram, há séculos, o primeiro passo para a criação de uma ética nos negócios e o seu papel na organização das empresas é indiscutível. Miguel Pina e Cunha sublinha que a religião, tal como não é irrelevante para as sociedades humanas, também não o é para as empresas. "O famoso clássico de Max Weber sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo mostra como a religião ajuda a criar visões do mundo/paradigmas que se repercutem no funcionamento na sociedade, incluindo as empresas", aponta. Ignorar esta realidade só pode trazer desvantagens.

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